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MASSACRE

Exército que contempla golpistas na porta de quartéis é o mesmo que invadiu CSN e matou grevistas há 34 anos

Exército invadiu a Companhia Siderúrgica Nacional com tanques e armamento pesado, em 9 de novembro de 1988

13 de novembro de 2022 - 11h47

Por Lúcia Rodrigues

O Brasil tinha promulgado sua Constituição pós ditadura militar há pouco mais de um mês, quando o Exército brasileiro invadiu a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), em Volta Redonda, no sul do Estado do Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 1988, para acabar com uma greve de trabalhadores da principal estatal produtora de aço.

Ao contrário dos golpistas amotinados nas portas dos quartéis, que querem derrotar a democracia, os metalúrgicos da CSN lutavam por direitos, como a reposição salarial de perdas provocadas por planos econômicos e a implantação do turno de trabalho de seis horas.

Como resposta às reivindicações trabalhistas, asseguradas pelo direito de greve previsto na Constituição Cidadã, o Exército invadiu a CSN com tanques, fuzis, metralhadoras e bombas. O saldo do massacre comandado pelo general José Luís Lopes da Silva resultou na morte de três trabalhadores e dezenas de feridos.

William Fernandes Leite, de 27 anos, e Walmir Freitas Monteiro, de 22 anos, foram atingidos pelos tiros disparados. Leite foi alvejado no pescoço e Monteiro, nas costas. Carlos Augusto Barroso, de 19 anos, teve o crânio esmagado por pancadas.

Da esq. para a dir., os trabalhadores William Fernandes Leite, Walmir Freitas Monteiro e Carlos Augusto Barroso assassinados pelo Exército durante a invasão da CSN. Foto: arquivo da Cúria Diocesana de Volta Redonda

Nenhum militar que participou da operação foi punido. O general Lopes da Silva seria, inclusive, premiado mais de uma década após o massacre.

Em 1999, foi nomeado juiz pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, para ocupar o cargo de ministro do STM (Superior Tribunal Militar), posto em que permanceu até se aposentar em 2004.

Atualmente, o Ministério Público Federal move uma ação civil pública para que a União peça desculpas aos parentes das vítimas mortas no massacre e à sociedade brasileira.

De acordo com o órgão, o pedido de desculpas deve ser publicado em dois jornais de grande circulação no Estado do Rio de Janeiro.

Memorial

No dia 1° de maio de 1989, menos de seis meses após a chacina promovida pelo Exército, um monumento de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer era inaugurado na cidade, para lembrar os trabalhadores mortos.

A solenidade contou com a presença do então presidente da CUT, Jair Meneguelli. Horas depois, um atentado a bomba explodiria o memorial. Até hoje ninguém foi punido.

A pedido do próprio Niemeyer, o monumento seria reerguido mantendo as marcas do ataque. Em agosto daquele ano, o então candidato do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participaria da reinauguração do memorial em homenagem aos mortos no massacre.

 

A ação movida pelo Ministério Público Federal, que tramita na 3ª Vara Federal de Volta Redonda, também pede que o Memorial 9 de Novembro, como é conhecido o monumento, seja reformado, porque de acordo com o órgão, estaria em péssimas condições atualmente.

Homenagem musical

Em 1993, a banda de punk rock Garotos Podres dedicaria uma faixa do disco Canções Para Ninar, para lembrar o massacre promovido pelo Exército contra os trabalhadores metalúrgicos da CSN.

“Fuzilados da CSN, assassinados no campo, torturados no Dops, espancados na greve. A cada passo desta marcha, camponeses e operários, tombam homens fuzilados. Mas por mais rosas que os poderosos matem, nunca conseguirão deter a primavera! Pois o futuro vos pertence, pois o futuro vos pertence!”, diz trecho da letra da música.

Ouça abaixo a faixa Aos Fuzilados da CSN.


Comentários

Maria Rita Kehl

13/11/2022 - 13h45

O assunto é muitovtriste, mas agradeço por me fazerem lembrar do massacre da CSN na ditadura e seu triste parentesco com a violência de Estado sob Bolsonaro.

Tereza Nakagaa

13/11/2022 - 15h06

Muito triste, este episódio. E pior, o responsável nem foi puído!!!!

Vilma Amaro

13/11/2022 - 19h09

Parabéns Lúcia ,brilhante matéria .E parabéns também aos Garotos Podres ,beleza de música ,que letra fantástica

    admin

    13/11/2022 - 22h38

    Obrigada, Vilma!

José Lemos da Silva Filho

13/11/2022 - 21h35

Dirigente do Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda e engenheiro de manutenção na CSN, eu estava lá junto com os metalúrgicos e engenheiros em greve. Nunca esquecer para nunca aceitar a opressão de falsos patriotas.

Jaqueline

14/11/2022 - 14h27

Ótima matéria. Triste lembrança, porém necessária, vivemos quatro anos sombrios e a necessidade de não normalizar a violência, o ódio e o preconceito e urgente.

Joao Batista Filho

14/11/2022 - 18h55

Conheço muito bem o que foi a maldita ditadura, pois tava servindo ao Exército, só fui popado de torturar, porque eu era recruta e, não tive treinamento pra tal ato, graças a Deus me livrei, mais vi companheiros praticarem as piores coisas, tortura nunca mais, viva a liberdade a democracia e o estado de direito

Fernando Monteiro

16/11/2022 - 10h27

Jamais esqueceremos os trabalhadores que foram mortos e feridos naquela greve e nem o atentado a bomba dos fascistas! Fascistas, nazistas, não passarão!!!!!!

EDMILSON BAPTISTA ALVES

17/11/2022 - 05h39

E evidente que ato igual ao que militares do Exercito praticaram no RIOCENTRO e o na SIDERURGICA NACIONAL sao criminosos e MARGINAIS responsaveis em vez de punidos foram premiados no caso do Riocentro sargento evidente foi provido pos morte e a familia recebido um bom dinheiro para a ficar de ” boca fechada” e desaparecer e o capitao em vez de EXPULSO foi premiado com a patente de GENERAL.
ASSIM COMO FOI PREMIADO OS ASSASSINOS DOS TRABALHADORES ASSASSINADOS EM VOLTA REDONDA.
NA REALIDADE E PARA ISSO QUE SERVE O EXERCITO ASSASSINAR OU TENTAR ASSASSINAR INOCENTES SEJA AQUI NO BRASIL OU NO HAITI.

Ernesto

17/11/2022 - 17h08

É uma vergonha para as forças armadas de qualquer país. A brutalidade e a covardia não honra ninguém. A nação precisa retomar um debate sério sobre o papel dos militares. E deve começar pela efetivação de todas as punições que se arrastam e não se concretizam.

Benedicto Diniz

19/11/2022 - 16h44

Forças Armadas devem ficar dentro de quartéis. Só, sem se meter em política. Imagino as PM e Guardas Municipais interferindo nas eleições para Governadores e Prefeitos.

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