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ENTRADA FRANCA

Peça traz para palco evolução da censura no país; apresentação única ocorre em Juiz de Fora (MG)

Atores ensaiam para apresentação desta sexta-feira, 5, às 20h, no Teatro do Forum da Cultura, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Zona da Mata mineira Foto: Divulgação

05 de abril de 2024 - 15h42

Por Lúcia Rodrigues

Retratar a censura no país desde o período colonial até aos dias atuais. Essa é a proposta do diretor teatral, José Luiz Ribeiro, que traz Censura, não! para o palco do Teatro do Forum da Cultura, da Universidade Federal de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, nesta sexta-feira, 5, às 20h, em apresentação única e com entrada franca.

Com 28 atores do Grupo Divulgação em cena, interpretando texto assinado por ele, a peça também faz o resgate da censura durante os Anos de Chumbo da ditadura militar.

O objetivo é mostrar que a censura não morreu e ainda hoje se impõe em várias situações, além de estancar o esquecimento sobre essa chaga que teima em persistir.

O exemplo mais recente é o ataque ao romance O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, que foi recolhido das escolas públicas de Goiás, Mato Grosso do Sul e do Paraná, por determinação de seus governos.

A vida de Ribeiro está entrelaçada com a arte do palco e o drible à censura há décadas. “Faço teatro há 60 anos sem parar.” O dramaturgo Augusto Boal é um dos nomes com quem ele trabalhou.

Ele explica que durante a ditadura militar quem fazia teatro tinha de se desdobrar para vencer a sanha dos censores.

“Vianninha (o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho), não podia. Mas então montávamos tragédias gregas”, relembra.

O diretor recorda o ensaio geral de uma peça de Maurício Tapajós,  em que Tapajós teria criado uma situação inusitada para distrair a censora.

“Chamou um cara da iluminação, que não tinha nada a ver com a peça. Botou ele pelado em cena  virando cambalhota. Aí a censora disse que liberaria, se tirasse o rapaz pelado de cena”, conta gargalhando.

Ribeiro ressalta que o teatro também está intimamente ligado ao fechamento da ditadura militar, que culminou no AI-5.

“A Ruth Escobar tinha montado Lisístrata (de Aristófanes). O (deputado federal) Márcio Moreira Alves (MDB-RJ) foi assistir ao espetáculo e ficou tão impactado, que fez o discurso (na Câmara Federal) em que disse para as moças não namorarem cadetes. Se não tivesse o teatro, não tinha o AI-5.”

O espetáculo dirigido por ele faz parte da série de eventos que acontecem em abril, para descomemorar os 60 anos do golpe militar na cidade, de onde partiram as tropas comandadas pelo general golpista Olímpio Mourão Filho, para depor o presidente João Goulart.

Também se encerra nesta sexta, a Mostra que traz textos teatrais com as marcações de cortes feitas pelos censores da ditadura, como o Diário de um Louco, em que Ribeiro foi ator.

A curadora da Mostra, Marcinha Falabella, explica que também foi feita uma intervenção artística que usou mordaça e tesouras, como metáfora para simbolizar a censura.

“É muito importante que tenha sido feita neste momento, que é o marco dos 60 anos do golpe. A ação da censura modificou, mas permanece presente. E é preciso tocar nessa ferida, e que se mostre que isso aconteceu e que continua acontecendo, para que não aconteça mais”, enfatiza a curadora.

Assista a seguir vídeo de Ribeiro recitando o poema que abre a peça, além do teaser do ensaio de Censura, não!

 

Ficha técnica:

Elenco: Aian Cruz, André Felipe Duque, Ashley Assis, Bruna Leal, Bruno Schultz, Camila de Carvalho, Camily Vitória, Daniel Berg, Eveline Faria, Fernanda Borges, Helena Vasconcellos, Hiago Dias, Igor Santos, Kauê Fonseca, Laís Fonseca,  Lendel Smânio, Letícia Rezende, Lúcio Araújo, Marcos Rocha, Maria Clara Almeida Santos, Mateus Omar, Maxwell Marcílio, Raíssa de Castro, Taynara Miguel e William Ribeiro

Figurino: Malu Ribeiro

Preparo corporal e sonotécnica: Dowglas Mota

Preparo vocal, cartaz, fotografia e registro videográfico: Márcia Falabella

Direção, texto e luminotécnica: José Luiz Ribeiro

O Teatro do Forum da Cultura está localizado na rua Santo Antônio, 1.112, centro, Juiz de Fora, Minas Gerais.

 

 


Comentários

Dowglas

05/04/2024 - 17h09

Linda matéria!!! Avante com o teatro brasileiro!

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