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8 DE MARÇO

Na guerra e na paz, mulheres sofrem assédio de homens como deputado Arthur Mamãe Falei

08 de março de 2022 - 09h11

Na Guerra e na Paz

 

Por Mariana Moura

Eu estava feliz de começar essa série de artigos sobre Ciência no Brasil exatamente no mês das Mulheres e separei um bom material para discutir a participação das mulheres na ciência no Brasil e no mundo.

E poderia descrever e apresentar dados sobre como somos hoje maioria entre mestres e doutores, entre pesquisadores em diversas áreas, como as mulheres contribuíram e contribuem para o avanço do conhecimento apenas por trazerem um ponto de vista diferente sobre as áreas em que se debruçam.

Queria trazer as batalhas travadas e vencidas diariamente por todas as pesquisadoras que, além de terem que lidar com a mesma falta de apoio público que todos os pesquisadores brasileiros, têm que lidar com piadinhas, desconsideração, espaços físicos menores e assédio sexual nos seus locais de trabalho.

Mas, impulsionada pelas recentes declarações vazadas de um deputado estadual paulista e pela repercussão que elas tiveram em vários meios de comunicação, não posso deixar de falar sobre a condição feminina na guerra e na paz, como bem ressaltou o artigo dessa semana do jornalista Jamil Chade.

E que, por mais repugnantes que sejam, e ainda que atribuídas – como ele fez em vídeo de desculpas – à molecagem, refletem um pensamento que ainda persiste na nossa sociedade: é permitido – ou, se não permitido ao menos tolerado – aproveitar-se da vulnerabilidade.

Neste sentido, e apenas neste sentido, “pegar” meninas na fila dos refugiados se assemelha a “pegar” meninas (meninos também) bêbadas na balada e a contratar um(a) funcionário/funcionária por um salário menor aproveitando-se do desespero de uma mãe/pai de família que não tem como pagar o aluguel.

Há muito tempo a luta feminista (de homens e mulheres) aponta o fato de que, presa no trabalho doméstico e no cuidado com a família, é muito mais difícil para uma mulher se libertar de uma relação de violência.

É imperativo, portanto, que a sociedade proveja um espaço seguro e justamente remunerado para permitir a estas mulheres tomarem decisões sobre a própria vida e de seus filhos e filhas.

Muitos avanços foram feitos neste campo, muitos ainda precisam acontecer (como, por exemplo, o salário igual para trabalho igual).

No entanto, durante a minha experiência como representante discente da pós-graduação, ouvi depoimentos de mulheres donas de si e de seus destinos, com bons salários (ou, se não bons, pelo menos acima da maioria da população brasileira) que sofreram e sofrem diariamente assédio moral e sexual.

Docentes, funcionárias, pós-graduandas e alunas de graduação ainda sofrerem algum tipo de assédio é revelador de um outro aspecto da violência contra as mulheres que precisamos apontar urgentemente: aproveitar-se da vulnerabilidade ainda rende frutos para quem está no topo da cadeia alimentar.

Ainda não vi uma saída rápida para este problema mas, às vezes, é isso que nós cientistas fazemos. Apontamos problemas na esperança que um outro pesquisador possa trazer uma solução. Afinal, a produção de conhecimento é um trabalho coletivo.

 

Mariana Moura é pesquisadora pós-doc do Sou Ciência na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), doutora em Energia pela USP (Universidade de São Paulo), professora de Relações Internacionais e co-fundadora do Movimento dos Cientistas Engajados

 


Comentários

Danielle Schildberg

08/03/2022 - 12h01

Muito bom o texto! Infelizmente, ainda temos que trocar comemorações por chamadas de atenção como esta. Feliz Dia da Mulher para nós, e que todos os nossos dias se tornem realmente mais felizes!

WIlson

08/03/2022 - 12h05

Muito bom texto! Esses alertas possuem endereço certo, política guiada por conhecimento! Parabéns Mariana Moura pelo dia internacional das mulheres e por representar tudo que li.

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