Apoie o holofote!
Busca Menu

COVID 19

Pandemia não acabou, medidas de proteção devem ser mantidas; guerra pode ampliar contágio

10 de março de 2022 - 17h36

Acabou a pandemia da covid-19? Não

 

Ubiratan de Paula Santos 

No atual estágio, a pandemia no Brasil apresenta uma importante redução de pessoas registradas como infectadas e de óbitos, nos últimos 30 dias. A evolução de casos/dia passou de cerca de 12 mil em 5 de janeiro deste ano para 182 mil em 4 de fevereiro e, em 7 de março, os registros somaram 40 mil.

O número de óbitos, nos mesmos dias, evoluiu de 80, para 728 e agora 424, apresentando, como esperado, uma defasagem com relação aos registros de infecções, tanto na elevação como no descenso.

Situações semelhantes vêm ocorrendo em muitos países, mas com grande heterogeneidade entre eles (ver tabela abaixo) e no interior dos mesmos, sendo mais castigadas as populações pobres e menos protegidas pelas vacinas.

O mais rápido controle da onda provocada pela variante Ômicron no Brasil se deveu à vacinação, com boas coberturas, embora heterogêneas entre Estados e cidades, especialmente nas doses de reforço e na vacinação infantil.

O Brasil, vice-líder em óbitos e terceiro no ranking de infectados, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Índia, sofreu grande impacto da pandemia com mais de 29 milhões de registros da doença e mais de 654 mil registros de óbitos (dados de 9 de março), em decorrência do desgoverno federal, que promoveu o esvaziamento e a perda de capacidade operacional e de qualidade do Ministério da Saúde, sob ocupação militar e com sucessivas medíocres direções.

O Ministério da Saúde foi o braço da desorganização coletiva empreendida por Bolsonaro. Muitos Estados e municípios adotaram uma política melhor, mas, devido ao contraponto federal e às suas meias medidas, não conseguiram organizar, com raras exceções, ações capazes de impactar de maneira significativa a redução de pessoas contaminadas e mortas. O país todo sofreu assim grande impacto da pandemia.

Tabela. Dados de registros de casos e óbitos acumulados e média móvel de sete dias (https://ourworldindata.org/coronavirus- dados de 06.03.2022)

A interpretação da evolução da pandemia no Brasil nos últimos 30 dias, favorável, contrariamente ao que vem sendo defendido por várias autoridades, não deve merecer a redução das medidas de proteção contra a infecção, bem como deixar de adotar melhorias nas medidas de vigilância nunca bem realizadas no Brasil, pela falta de testagens e de condutas padronizadas para os serviços de saúde.

Devemos levar em conta também que o atual conflito na Ucrânia, com importante deslocamento de populações, grandes aglomerações em países europeus e movimentações militares, poderá ter impacto na evolução da pandemia.

Assim são indispensáveis: 

  1. Insistir na ampliação da cobertura vacinal pelas secretarias de saúde de Estados e municípios;
  2. Persistir com uso de máscaras em ambientes internos de trabalho e nos trajetos com uso de veículos de transporte;
  3. Nos ambientes de trabalho e de uso público são essenciais os cuidados com a ventilação, com a adequada taxa de renovação de ar e com níveis de umidade eficientes, pois reduzem os riscos de infecção e de gravidades de eventuais infectados. Orientação e fiscalização do poder público devem ser rigorosas neste tema, pois a boa ventilação contribui para reduzir o risco de infecções em geral, para além da pelo SARS-CoV-2; 
  4. Neste momento, de redução do número de infectados, é possível e necessária a disponibilidade de testagem para todos com sintomas sugestivos, bem como para os que referirem ter tido contato com pessoas infectadas, diferentemente do que vem ocorrendo onde são testados apenas sintomáticos e, em muitos serviços, só os com sintomas considerados graves. Os resultados devem ser disponibilizados em até 24 horas, com os pacientes sendo monitorados quanto à evolução e solicitados a informar sobre pessoas com as quais eles tiveram contatos, bem como a permanecerem em isolamento por pelo menos 10 dias, se estiverem bem nas 48 horas anteriores; caso contrário postergar isolamento após avaliação médica. Todas as unidades de atenção à saúde que integram o SUS devem estar aptas para esses procedimentos; 
  5. Nas escolas, as medidas do item 4 devem merecer especial atenção e com monitoramento por parte de suas direções, que devem procurar manter-se integrados com as unidades de saúde mais próximas;

O objetivo deve ser reduzir a mortalidade a Zero e para isso o número de infectados deve tender ao mesmo, junto com busca da permanente ampliação da cobertura vacinal.

São essas medidas que permitirão reduzir o risco de novas variantes por aqui, ao mesmo tempo em que toda pressão e apoio a ser dado para que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e os governos dos países ricos deixem de estimular a guerra, cujos reflexos podem rebater na pandemia e ajudem a ampliar a vacinação globalmente, com a quebra de patentes ou autorizações para que vacinas sejam fabricadas na África e outros países, sem as restrições impostas pela ganância das farmacêuticas, a bem do povo.

 

Ubiratan de Paula Santos é médico pneumologista no Instituto do Coração – HCFMUSP (Hospital das Clínicas – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo)


Comentários

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe seu comentário

Outras matérias