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CONFLITO

Otan, Estados Unidos e União Europeia esticaram corda que provocou guerra na Ucrânia, diz jornalista

No detalhe, ucraniano que participava de negociação teria sido morto por compatriotas que o consideravam pró-Rússia

07 de março de 2022 - 03h11

Me apresentem argumentos contra fatos

 

Por Gezilda Lima, de Moscou

Desde novembro assistimos a uma verdadeira guerra psicológica, mais concretamente, uma guerra unilateral russofóbica, onde se esgotaram todos os argumentos, todas as tentativas na busca diplomática de saídas que atendessem a um acordo pacífico entre a Rússia e a Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte).

Nem os Estados Unidos, nem seu braço armado, a Otan, se dispunham a negociar, ao contrário, difundiam a pecha de que a Rússia estava se preparando para invadir a Ucrânia. Chegaram inclusive a pré datar a invasão. Piada, não é? Que invasor te avisaria com antecedência, data e horário de sua chegada?

A verdade é bem outra, e por inúmeras vezes, Putin, publicamente, dizia: “Nosso exército encontra-se em exercícios de treinamento dentro de nosso território, e não temos a menor intenção de atravessar a linha vermelha, tampouco, invadir a Ucrânia”.

Dirigindo-se aos Estados Unidos e Otan ele perguntava: “Qual seria sua reação, caso o exército russo se enfileirasse na fronteira entre o México e os Estados Unidos? Não seria isso, um sinal de alerta, uma clara demonstração de que o país de vocês estava em eminente perigo?

Qual fosse a retórica de Putin, a resposta era sempre a mesma: a Rússia irá invadir a Ucrânia. Vamos aos fatos para entender toda essa ira dos Estados Unidos que arrastam consigo, seus fiéis seguidores europeus.

Começa que os Estados Unidos não podem assumir publicamente que são os principais responsáveis pelas atrocidades que vêm cometendo mundo afora.

Quem não se lembra da guerra contra o Irã, das propaladas armas nucleares no Iraque? Ou das famigeradas revoluções coloridas, que tingiram de sangue a Líbia, a Síria, o Afeganistão, a carnificina na Iugoslávia e tantos outros casos…? Ou mesmo, a recente tentativa frustrada no Cazaquistão?

E nem vou incluir aqui, a história dos vinte centavos no Brasil, que culminou com a deposição de Dilma Roussef e a prisão de Lula.

Para encurtar a conversa, lembremos a própria Ucrânia, hoje o centro das atenções, que teve em 2014 como seu sustentáculo maior os Estados Unidos na organização e sustentação financeira e bélica da famigerada revolução laranja, ou colorida como preferirem.

Não é o caso aqui de trazer à luz o resultado em detalhes de todas aquelas ações de carnificina que custaram milhares de vidas, e não se ouviu ao longo destes anos essa comoção mundial. Vamos nos ater apenas ao propalado conflito Rússia e Ucrânia.

Não dá para falar disso sem contextualizar a situação na linha do tempo. Pois bem, tudo tem início com as tratativas ainda à época da União Soviética, durante a Perestroika de Gorbachev.

Em uma reunião datada de 9 de fevereiro de 1990, o então secretário de Estado americano, James Baker, prometeu a Gorbachev, líder soviético à época, que a Otan não avançaria nenhuma polegada sobre o  leste europeu. E Gorbachev, enfaticamente, dizia: “A expansão da Otan é inaceitável”. Isso ocorreu quando se discutia a reunificação das Alemanhas (Ocidental e Oriental), após a queda do muro de Berlim.

Dessa reunião tivemos o tal acordo que nunca cumprido, no qual a Otan se comprometia a não avançar nenhuma polegada em direção ao leste europeu. Mas avançou milhares de milhas. Em contrapartida, os países do leste dissolveram o Pacto de Varsóvia.

Em 1999 a Otan teve a adesão da Polônia, Hungria e da República Tcheca. Em 2004 vieram a Letônia, Estônia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária e Romênia. Em 2009 tiveram a adesão da Albânia e da Croácia. E em 2020 entraram Montenegro e Macedônia do Norte.

A Rússia apenas assistia de camarote toda essa excrescência, limitando-se apenas a fazer alertas em suas aparições nos fóruns internacionais. É pouco?

Agora temos na fila de adesões a Bósnia, a Herzegovina, a Geórgia e a Ucrânia. Estas duas últimas fronteiras com a Rússia. Não podemos esquecer a disputa de fronteira entre a Geórgia e a Ossétia do Sul, cuja população é majoritariamente russa.

Neste contexto a Ucrânia entra no cenário por conta da disputa da Criméia e Donbass (autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk), também com populações majoritariamente russas.

Onde estão os donos da democracia, que fazem ouvidos moucos a mais de 30 anos e que, mais recentemente, foram incapazes de denunciar a guerra civil na Ucrânia após o golpe de 2014?

E qual seria a razão da escolha pela “suposta” defesa da Ucrânia hoje? Será que não chegam informações das cerca de 15 mil mortes de ucranianos durante esses 8 anos?

No caso da Crimeia, quando se instalou a guerra civil na Ucrânia, seu povo organizou um plebiscito cujo resultado foi o pedido para que a Rússia reincorporasse seu território, o qual havia sido, por razões meramente de logística organizativa de evacuação da produção soviética, destinado à Ucrânia durante o governo soviético de Kruchev e que, por erro e inconsequência do então presidente Boris Yeltsin, não veio a ser reincorporada à Rússia no processo de desmonte do Estado Soviético.

Em seguida, a região de Donbass, composta pelas regiões de Lugansk e Donetsk, decidiu ir por esse mesmo caminho, porém, para evitar o conflito, o governo russo não teve a mesma postura, embora reconhecesse a seriedade do problema a que estava submersa a região de Donbass.

Essa é o fio da meada que se desenrola no presente momento e, o que não é dito pela mídia ocidental, inclui-se aí também o Brasil.

A narrativa hedionda dos Estados Unidos, engrossada pela Europa, contra a Rússia, vem sendo difundida vergonhosamente sem que a mídia sequer dê voz ao outro lado. Trata-se de propaganda.  Usam fotos retiradas de outros acontecimentos em outras datas, como por exemplo, a Revolução Laranja ucraniana de 2014, fotos até mesmo de conflitos na Iugoslávia e na Síria.

Chegam ao cúmulo de pintar a marca “Z” nos tanques ucranianos para tentar culpabilizar a Rússia por ataques à população civil, o que deixa claro quão amadoras são essas tentativas. A verdade é que, daqui, todas essas fotos e locais destruídos, e os equipamentos russos, são reconhecidos de longe por qualquer um. Não há a necessidade de nenhuma perícia.

O que vemos é o massacre do exército nazi-fascista de Zelensky sobre a população civil na Ucrânia encoberto por essa guerra midiática de fake news.

Para não me alongar mais, já que a Rússia virou figurinha carimbada no noticiário mundial, cabe dizer que a Rússia tem insistentemente, desmentido a pecha estadunidense-europeia e, pelo contrário, tem envidado esforços no sentido de garantir a integridade da população da Ucrânia, muitas vezes desviando-se de seu objetivo abertamente difundido de apenas desmantelar o aparato bélico em mãos nazistas, desmilitarizando e desnazificando a Ucrânia, devolvendo a paz a esse povo sofrido, massacrado e com perdas irrecuperáveis ao longo dos últimos oito anos.

Infelizmente, a Ucrânia não cumpriu sequer os acordos assinados, notadamente, os Acordos de Minsk 1 e 2, assinados inclusive com o aval da França e Alemanha.  Pelo contrário, busca reforços na Otan. Daí a posição inflexível da Rússia em não aceitar a entrada da Ucrânia nas fileiras da Otan por significar um real perigo ao seu território.

Neste exato momento, é difícil prever como tudo isso vai acabar. Fato é que, o exército russo vem operando em duas frentes: a primeira, atacando o aparato bélico militar e a segunda, buscando garantir a integridade de toda a população ucraniana, não apenas na região de Donbass.

A Rússia, porém, vem encontrando séria resistência dos batalhões nazistas bem preparados e treinados pelos Estados Unidos, inclusive com reforço daqueles que estiveram nos massacres das guerras anteriores.

Por outro lado, o presidente ucraniano, não tem uma postura séria na busca de uma saída negociada. Das duas tentativas de negociação, acordadas com extrema dificuldade, que ocorreram na Bielorússia, o máximo conseguido foi o compromisso de cessar fogo para que a população civil tomada como refém na cidade de Mariupol, pelo Batalhão Azov (formado por nazistas), pudesse ter assegurada sua saída por um corredor de segurança.

O exército russo se voltou à construção de três corredores, enquanto o exército ucraniano continuou firme em seus bombardeios, não permitindo a saída pacífica das pessoas. Poucas foram as que conseguiram sair até o momento.

Outro fato a destacar, é que nem mesmo foi poupado um dos negociadores da delegação ucraniana, de sobrenome Kireev, presente na primeira reunião realizada na cidade de Gomel, por ter sido conhecida sua fala de condenação a guerra. Foi morto sem piedade por seus pares ucranianos.

A Rússia vem sofrendo embargos e sanções cruéis, mas, tem dado demonstração de que está preparada a superar todas as dificuldades.

A luta é tensa, mas a vitória contra o nazi-fascismo é certa. Ninguém é a favor da guerra pela guerra. Queremos paz, mas só a teremos quando pudermos extirpar o nazi-facismo que mata sem dó nem piedade.

Dói a perda dos combatentes e do povo que pouco ou nada tem a ver com essa situação.

Vamos torcer para que, ao final desse pesadelo, o mundo seja agraciado com uma nova ordem, na qual cada um dos cidadãos seja pleno de direitos e não tenhamos que engolir goela abaixo uma falsa democracia ditada pelo império americano.

 

Gezilda Lima é jornalista, diretora de cinema, mora na Rússia desde o ano 2000 e é correspondente do Holofote


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