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Quase um ano após início da Guerra na Ucrânia, Rússia acumula reveses ao enfrentar Otan sozinha

01 de fevereiro de 2023 - 13h04

Um ano da guerra da Rússia contra a Otan e o Ocidente

O apoio da OTAN à Ucrânia

 

Por Caio Bugiato

A guerra na Ucrânia completa um ano este mês. O confronto, que aparentemente opõe apenas dois Estados, durante este período pode ser dividido em duas fases: a contraofensiva russa e a reação da Otan. Mas antes de tratar destas fases, é necessário entender por que damos a elas tais nomenclaturas.

Primeiro, como argumentamos no artigo intitulado Guerra na Ucrânia: antecedentes e caráter do conflito, o governo Putin trava uma guerra anti-imperialista defensiva contra a ofensiva da Otan. Uma vez que esta organização e os Estados capitalistas que ela representa não admitem a não integração ou não subordinação do Estado russo ao capitalismo ocidental. O governo Putin tem um projeto de capitalismo autônomo na Rússia e a Otan o vem cercando e intimidando com sua expansão.

Segundo, como indicamos no artigo intitulado A OTAN reage, uma mobilização ocidental a favor dos ucranianos resulta, ainda que informalmente, em uma coalizão de apoio que reúne as potências capitalistas do Ocidente. É contra esta coalizão que lutam as forças russas. Vejamos os dados do Ukraine Support Tracker, do Instituto Kiel da Alemanha. Os dados compreendem o período de 24 de janeiro a 20 de novembro de 2022.

Gráfico – Ajuda militar, humanitária e financeira de países para a Ucrânia (em bilhões de euros)

Fonte: Kiel – Institute for World Economy, 2022.

Os Estados Unidos encabeçam a lista com 22,9 bilhões de euros em ajuda militar, 9,9 bilhões em ajuda humanitária e 15,1 bilhões em ajuda financeira. A União Europeia vem logo a seguir, com 3,3 bilhões em ajuda militar, 1,57 bilhão em ajuda humanitária e uma ajuda financeira que ultrapassa a dos estadunidenses, de 30,3 bilhões de euros.

Em terceiro e quarto lugares, Reino Unido e Alemanha, dois países da União Europeia que contribuem individualmente. Reino Unido com ajuda militar de 4,1 bilhões de euros, ajuda humanitária de 0,4 bilhão e ajuda financeira de 2,55 bilhões. Alemanha: 2,94 bilhões em ajuda militar, 1,95 bilhão em ajuda humanitária e 1,15 bilhão em ajuda financeira.

Em quinto lugar outro país do G7, o Canadá com 1,36 bilhão em ajuda militar, 0,29 bilhão em ajuda humanitária e 2,14 bilhões em ajuda financeira.

Dos 11 países listados (excluindo, portanto, a União Europeia), 10 fazem parte da Otan e um, a Suécia, está em processo de adesão. As potências capitalistas ocidentais têm todo interesse em formar essa coalizão, como mostram os dados, independente do tour de caixeiro-viajante do presidente ucraniano e dos casos de corrupção no seu governo. Por outro lado, os russos parecem lutar sozinhos.

A dinâmica da guerra

A primeira fase da guerra foi marcada pelo avanço russo, como mostra o mapa de 8 de março.

Contraofensiva russa

Fonte: BBC Brasil e Institute for Study of War, 2022.

Nas primeiras semanas da guerra os russos avançaram pelo Leste, Sul e Norte. Chegaram às portas de Kiev, que não foi tomada. Contudo tomaram a importante cidade de Kherson, ao sul, capital da província homônima.

A região de Kherson possui 28,5 mil quilômetros quadrados, uma área quase do tamanho da Bélgica, e saída para os mares Azov e Negro. E mais importante, ser conexão por terra com a Crimeia, território russo antes mesmo da guerra. A tomada desta região, que está na foz do rio Dnipro, poderia resolver o problema de abastecimento de água da Crimeia, além de bloquear o acesso ucraniano ao Mar Negro.

A retomada de territórios pelos ucranianos marca a segunda fase da guerra. Cerca de seis meses após o início do confronto, isto é, o tempo da ajuda militar e financeira da Otan se transformar em aparato operacional de guerra, os russos recuaram, como mostra o mapa de 21 de agosto.

A reação da OTAN

Fonte: BBC Brasil e Institute for Study of War, 2022.

Em agosto do ano passado, os russos já não controlavam o norte da Ucrânia, mas ocupavam uma faixa territorial que se estendia da região de Kherson, passando pela região de Zaporizhzhia (entre Kherson e Donetsk), até as províncias separatistas de Donetsk e Luhansk. Em 30 de setembro, o presidente russo Vladmir Putin anunciou a incorporação destas quatro províncias, que representam cerca de 15% do território ucraniano.

No mês passado, quase um ano após o início da guerra, de acordo com o Institute for Study of War a situação é a seguinte:

Resultado da contraofensiva russa e da reação da Otan

Fonte: Institute for the Study of War and AEI’s Critical Threats Project, 2023.

Os russos perderam o controle de parte da região de Kherson, inclusive a capital. Com a reação da Otan já haviam perdido a cidade de Kharkiv (segunda maior cidade ucraniana) e sua província homônima, a noroeste de Luhansk, situação que se manteve. Entretanto, mantêm o controle sobre uma grande extensão territorial que liga a Crimeia às províncias separatista de Donetsk e Luhansk. Ressalta-se que, apesar da incorporação das quatro províncias citadas, seus territórios não são totalmente controlados pelas forças russas.

No último dia 13, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou a conquista da cidade de Soledar, na província de Donetsk. Seria a primeira cidade tomada na região desde meados do ano passado. A conquista abriria rotas para o oeste, especialmente para Bakhmut, centro administrativo da província, e para retomar Kharkiv.

Por outro lado, os Estados da Otan e seus aliados formaram uma coligação de tanques: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Países Baixos, Espanha, Noruega, Finlândia e Polônia vão enviar cerca de 80 tanques de guerra à Ucrânia nos próximos dias, o que poderia escalar a guerra para uma nova fase.

 

Caio Bugiato é professor de Ciência Política e Relações Internacionais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e do programa de pós-graduação em Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC)


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