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ECONOMIA

Governo pode baixar diesel se quiser; privatização da Petrobras vai elevar preços ainda mais

14 de março de 2022 - 15h21

A estrutura dos preços do óleo diesel

 

Por Fernando Siqueira

No primeiro artigo de uma série de quatro, em que pretendo analisar a manipulação da estrutura de preços dos derivados de petróleo, abordei a absurda estrutura do gás de cozinha. Agora vou tratar sobre a do diesel, outro absurdo.

Em artigo para a Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras), Felipe Coutinho, seu presidente, explica que a Petrobras é superavitária na produção de petróleo, ou seja, produz mais do que o consumo nacional demanda.

Mas desde 2016, as diretorias da Companhia adotam a política de PPI (Preço de Paridade de Importação), como se os combustíveis fossem importados, pagando todas as taxas, transporte, a despeito de serem produzidos e refinados no país.

O custo de extração do petróleo está na faixa de US$ 5 por barril. Acrescentando a participação governamental, afretamento, custo de refino, juros, impostos e outros, pode-se assumir, conservadoramente, um custo de produção de R$ 1,20 por litro de óleo diesel.

Com o aumento da produção de diesel em detrimento de outros derivados, como o querosene de aviação e o incremento do uso do biodiesel nacional, misturado ao diesel refinado, a Petrobras fica próxima da autossuficiência nesse derivado.

Portanto, não tem sentido ganhos superiores a 100% no diesel produzido e refinado aqui.

A Petrobras é uma estatal que foi criada com o objetivo de abastecer o mercado brasileiro ao menor custo possível. Praticou isso em período praticamente integral ao da sua história. Por que seus dirigentes estão mudando isto agora? Só pode ser por conta do processo de privatização da Petrobras, em curso.

O custo de produção do diesel é de cerca de R$ 1,20 e a diretoria da Petrobras o vende por R$ 3,26 na refinaria. Então a Petrobras ganha mais de 170%. E transfere renda de nós brasileiros, boa parte dos quais estão desempregados e famintos, para acionistas privados, em sua maioria estrangeiros.

O diesel é um derivado altamente estratégico, pois é o insumo usado no transporte de alimentos, pessoas e produtos em geral. Seu preço exorbitante gera inflação em cadeia, penalizando a população, e se transformando no principal responsável pela inflação de dois dígitos.

A direção da Petrobras pode reduzir o preço na refinaria para R$ 2,40 e ainda assim obter um ganho de 100%, e participação da ordem de 50% na estrutura de preços. 

Com uma redução em cadeia, o preço do diesel se aproximaria de R$ 4,20 o litro. Porém assumindo que os demais participantes recebam os mesmos valores atuais, em reais, por litro de diesel vendido, o preço total ficaria em R$ 4,72. 

Sem reduzir impostos e sem devolver dinheiro para as petroleiras, como previsto em PECs recentes apresentadas pelo governo e por parlamentares bolsonaristas que propõem baixar impostos, com fins eleitoreiros,  e criar subsídios para remunerar as petroleiras.  

 

Estrutura atual de preços (em R$ por litro vendido)

ICMS ———————- 0,79 

Distribuição/Revenda———–0,64

Biodiesel——————-0,65

CIDE/PIS/COFINS——–0,33 

Petrobras—————3, 26 

Total ——————— 5,67  reais o litro

 

Aliás, pode-se reduzir até R$ 1 por litro e a Petrobras ainda permanece com uma remuneração decente. 

O atual presidente, rei das fake news, disse que para baixar os preços dos derivados, tem que privatizar a Petrobras. Mas a  análise dos preços internacionais nos mostra que ocorre exatamente o contrário. 

Vejamos o preço em dólar do litro de gasolina das estatais monopolistas dos seguintes países: Venezuela – 0,001; Irã – 0,06; Angola – 0,268; Kuwait – 0,348; Malásia – 0,49; Iraque – 0,51; Catar – 0,56; Arábia Saudita – 0,62; Rússia – 0,72; Brasil – 1,20 (Petrobras não é mais executora do monopólio da União). 

Por outro lado, vemos os preços dos países sem monopólio: Canadá – 1,34;  Japão – 1,43; Coreia do Sul – 1,525; Espanha – 1,736; Bélgica – 1,90; França – 1,91; Alemanha – 1, 949; Inglaterra – 1,96; – Portugal – 2,001; Suécia – 2,068; Dinamarca – 2,148; Holanda 2,282. 

Observação: estes preços foram tomados antes da invasão da Ucrânia.  

Concluindo: está faltando competência, honestidade e patriotismo. Assim, um dos países mais ricos e mais viáveis do planeta, aproxima-se cada vez mais de uma colônia subdesenvolvida.

 

Fernando Siqueira é engenheiro, diretor da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras) e presidente da Apape (Associação de Participantes da Petros)


Comentários

Lincoln Secco

19/03/2022 - 09h33

Muito bom

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