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MUNDO

Patrimônio dos dez mais ricos do mundo é maior do que 3,1 bi das pessoas mais pobres

07 de março de 2022 - 00h51

A explosão da desigualdade

 

Por Eduardo Fagnani

Os estudos desenvolvidos por Thomaz Piketty (2014) mostram que a concentração global da riqueza aumentou a partir dos anos de 1980. Relatório da Oxfam (2022) alerta que, com a pandemia, a “explosão da desigualdade” atingiu níveis ainda mais expressivos, havendo um aumento “sem precedentes” na riqueza dos bilionários, o “maior aumento de todos os tempos”.

O documento apresenta dados impressionantes sobre a concentração da renda no topo da pirâmide global:

  •     a fortuna de 2.775 bilionários cresceu mais durante a pandemia de Covid-19 do que nos últimos 14 anos;
  •     a fortuna de 252 homens passou a ser maior do que a riqueza combinada de todas as mulheres e meninas da África, América Latina e Caribe, o equivalente a  um bilhão de pessoas;
  •     desde 1995, o 1% mais rico capturou 19 vezes mais do crescimento da riqueza global do que todos os 50% mais pobres da humanidade;
  •     a fortuna dos dez homens mais ricos do mundo dobrou, ao passo que a renda de 99% da humanidade decaiu em decorrência da Covid-19; e,
  •     hoje, o patrimônio dos dez homens mais ricos do mundo é maior do que o dos 3,1 bilhões de pessoas mais pobres.

Uma das conclusões do estudo é que a “desigualdade nos dias de hoje é tão abissal quanto era no auge do imperialismo ocidental no início do século 20. A Era de Ouro do final do século 19 foi superada” (Oxfam, 2022:10).

Antes da pandemia, quase metade da humanidade (3,2 bilhões de pessoas) vivia abaixo da linha da pobreza do Banco Mundial de US $5,50 por dia. Com a pandemia, estima-se que há 163 milhões de pessoas a mais vivendo abaixo dessa linha de pobreza. A cada quatro segundos, a desigualdade contribui para a morte de pelo menos uma pessoa.

“A pobreza não apenas cria um imenso sofrimento. A pobreza mata. Ela é uma forma de violência econômica, perpetrada contra bilhões de pessoas comuns em todo o mundo todos os dias”, sublinha a Oxfam (2022: 33).

No Brasil, não foi diferente. Desde o início da pandemia o país ganhou 40 novos representantes na lista de bilionários da Forbes de 2021 e o aumento da riqueza dos bilionários foi de US$ 39,6 bilhões (OXFAM, 2022).

Enquanto isso, o país vive a maior crise sanitária, socioeconômica e humanitária da sua história, marcada pela estagnação da economia e aumento da extrema pobreza e da concentração da renda. Hoje, 20 milhões de brasileiros padecem de fome por estarem em situação de insegurança alimentar severa.

A inflação elevada corrói a renda dos pobres, enquanto a taxa de juros, uma das mais elevadas do mundo, eterniza a estagnação da economia, agrava o quadro social e aumenta o gasto com juros transferidos para os rentistas.

As contradições do modelo ultraliberal e da “austeridade” econômica adotadas pelos governos Temer e Bolsonaro foram escancaradas. As políticas econômicas não convergem para o propósito do crescimento e do bem-estar social.

É necessário um novo modelo que estimule os componentes da demanda agregada, pela adoção de políticas anticíclicas de natureza fiscal e monetária.

O Estado Social Brasileiro precisa ser reformado no sentido de ampliar a proteção contra os riscos associados ao trabalho informal e precário, reforçar o SUS (Sistema Único de Saúde) e introduzir um novo benefício de transferência de renda que complemente ou substitua os rendimentos do trabalho.

Uma nova ordem econômica também requer reforma tributária progressiva que incida sobre o topo da pirâmide da renda e riqueza para reforçar a capacidade para financiamento do Estado, requisito necessário para que ele cumpra as funções que lhe cabem numa crise dessa envergadura.

Referencias:

OXFAM (2022). A Desigualdade Mata. A incomparável ação necessária para combater a desigualdade sem precedentes decorrente da Covid-19. Oxfam International January 2022. https://materiais.oxfam.org.br/relatorio-a-desigualdade-mata

PIKETTY, Thomas (2014). O Capital no Século XXI / Thomas Piketty, 1. ed., Rio de Janeiro: Intrínseca.

 

Eduardo Fagnani é economista e professor colaborador do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)


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