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REPRESSÃO

Ditadura argentina: encontro entre filha de torturador e torturada é retratado em documentário da TV alemã

Detalhe da fachada da Esma, a Escola Mecânica da Armada, principal centro de tortura e extermínio da ditadura militar argentina e onde hoje funciona um memorial em homenagem às vítimas da repressão. Fotos: Lúcia Rodrigues

24 de julho de 2022 - 23h05

Por Lúcia Rodrigues

Um encontro entre a filha de um temido torturador da ditadura militar argentina e uma ex-presa política torturada por ele é o fio condutor do documentário Meu pai, o criminoso, produzido pela Deutsche Welle, a TV pública alemã, que descreve como filhos de genocidas se insurgem contra seus pais.

A professora primária e psicóloga Analía Kalinec, filha do genocida Eduardo Emílio Kalinec, fica frente a frente com a psicanalista Ana María Careaga, vítima de seu pai, no centro de tortura e extermínio, localizado embaixo de uma importante rodovia de Buenos Aires, onde foi seviciada por ele.

Centro de tortura e extermínio localizado embaixo da rodovia 25 de Maio

O encontro é marcado por um sentimento de dor de ambas as partes. A filha vai em busca de saber mais detalhes sobre os crimes que o pai cometeu durante a ditadura que perdurou no país de 1976 a 1983.

Analía só descobriu que o pai era um torturador quando já era adulta. De pronto o rechaçou.

E ela não está só na repulsa contra um pai genocida. Assim como Analía, vários filhos e filhas de gorilas responsáveis pelos 30 mil assassinatos de ativistas de esquerda, se insurgem contra os pais.

Eduardo Emílio foi condenado à prisão perpétua pela tortura e morte de quase 300 ativistas políticos. Analía  defende que ele cumpra a pena determinada pela justiça.

E foi justamente participando de uma manifestação contra um plano que visava reduzir as penas dos torturadores, que a professora conheceu outros filhos e filhas de genocidas que pensavam como ela.

Formaram o coletivo Histórias Desobedientes, que reúne parentes de torturadores, para lutar por memória, verdade e justiça.

Saem às ruas para exigir a punição dos torturadores que ainda não foram condenados e evitar que os que já foram presos tenham as penas reduzidas.

A família a considera uma traidora por se insurgir contra o pai. Ele inclusive, assim como duas de suas irmãs a quiseram deserdar.

Ela conta com o apoio do marido e revela a história aos filhos, para que conheçam o passado do avô.

O advogado Pablo Viera é outro que luta para que o pai seja responsabilizado pelos crimes que cometeu durante a ditadura.

Ele lamenta que seu testemunho não seja acolhido pela justiça como prova de que o pai, médico, participou dos voos da morte, para aplicar injeções nos presos opositores do regime que eram atirados ao Rio da Plata.

A Argentina teve centenas de centros de tortura e extermínio. Vários foram transformados em espaços de memória em homenagem aos que tombaram nas mãos dos verdugos. Veja a seguir alguns dos mais conhecidos e assista na sequência ao documentário Meu pai, o criminoso.

 

Fachada do centro clandestino de tortura e extermínio Garage Olimpo

 

Detalhe identificando Garage Olimpo como um centro clandestino da repressão

 

Fachada do centro clandestino de tortura e extermínio Automotores Orletti

 

Detalhe identificando Automotores Orletti como um centro de tortura e extermínio

 

A linha de trem em frente ao Automotores Orletti permitiu sua identificação pelos presos, devido ao barulho da ferrovia

 

Fachada do centro clandestino de tortura e extermínio Virrey Cevallos

 

Detalhe na fachada identificando o centro de tortura e extermínio da Força Aérea

 

Fachada da Esma, a Escola Mecânica da Armada, o principal centro de tortura e extermínio da ditadura militar argentina

 

Pátio principal da Esma por onde entravam os presos políticos para serem torturados e mortos. Não é permitido fotografar no interior do edifício

 

Assista abaixo ao documentário Meu pai, o criminoso

https://youtu.be/CRN7BYNdzQ4


Comentários

Helena

14/10/2022 - 22h58

Lamento que o vídeo /documentário Meu Pai, o criminoso não esteja disponível. Sou conteporânea dessa época vergonhosa.

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