Apoie o holofote!
Busca Menu

ANOS DE CHUMBO

Documentário sobre estudante da USP metralhado pela ditadura militar será lançado nesta sexta, 14, no Memorial da Resistência

Nome de Lauri faz parte do monumento erguido pela USP para homenagear estudantes, professores e funcionários mortos pela ditadura militar Foto: Lúcia Rodrigues

10 de abril de 2023 - 14h10

Por Lúcia Rodrigues

Os tempos sombrios dos Anos de Chumbo são o pano de fundo do documentário Lauri, do diretor Beto Novaes, que será lançado nesta sexta-feira, 14, às 15h, no auditório do Memorial da Resistência, sede do antigo Dops paulista, um dos principais centros de tortura da ditadura militar.

Estudante de Engenharia da Poli, a Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e morador do Crusp, o Conjunto Residencial da Universidade, Lauriberto José Reyes, o Lauri, era uma importante liderança estudantil no final dos anos 1960.

Foi um dos responsáveis pela organização do 30° Congresso da UNE, a União Nacional dos Estudantes, que ocorreu em Ibiúna, interior de São Paulo, em 1968.

Preso com centenas de estudantes na invasão do congresso pelas forças de repressão da ditadura militar, Lauri teve outro duro golpe no dia seguinte a sua prisão.

Seu pai foi atropelado e morto por um delegado, em São Carlos, quando o policial dirigia em alta velocidade para tentar interceptar uma passeata de estudantes que ocorria no centro daquela cidade do interior paulista, que também era terra natal de Lauri.

Resistência 

Com o fechamento do regime, Lauri ingressa na ALN, a Ação Libertadora Nacional, organização liderada por Carlos Marighella, e parte para a luta armada.

Caçado pelos militares, sequestra, com outros três companheiros da ALN, um avião da Varig e o redirecionam para Cuba, em 4 de novembro de 1969, mesma data em que a ditadura executava Marighella.

Na Ilha, participa de treinamento para se qualificar para o enfrentamento às forças do regime que estava cada vez mais feroz.

Volta ao Brasil como guerrilheiro do Molipo, o Movimento de Libertação Popular, uma dissidência da ALN que ocorreu em Cuba, e é executado pela repressão em 27 de fevereiro de 1972.

A versão apresentada pela ditadura era a de que Lauri e o companheiro de organização e também estudante da USP Alexander José Ibsen Voerões teriam sido mortos em tiroteio com agentes militares.

Décadas após suas mortes, testemunhas que presenciaram os assassinatos revelaram que não houve tiroteio. Lauri foi metralhado pelos repressores e teve o corpo jogado dentro do porta-malas de um veículo da ditadura.

A família soube de sua morte pelo Jornal Nacional.

Rose, uma de suas irmãs, e a mãe assistiam ao telejornal da Rede Globo quando ouviram o locutor anunciar a morte.

“Eu estava com um prato de comida na mão, sentada no sofá, eu e ela, quando o cara diz: ‘Morto terrorista Lauriberto José Reyes.’ O prato caiu no chão. Minha mãe ficou assim (em choque), e eu também”, descreve a irmã, em cena do documentário.

Homenagens da USP

O nome de Lauri é um dos que integram o Memorial da USP, erguido em concreto, em homenagem aos alunos, professores e funcionários da Universidade que tombaram na luta contra a ditadura.

O monumento, com o nome dos 47 membros da comunidade universitária escritos em aço, está localizado na Praça do Relógio, no centro do campus da Cidade Universitária, no Butantã, zona oeste da capital paulista.

O nome de Lauri aparece na mesma placa de concreto que o do jornalista e professor da USP Vladimir Herzog Foto: Lúcia Rodrigues

A exposição MemoriAntonia, em cartaz no prédio da USP da rua Maria Antonia, no centro da capital paulista, também homenageia Lauri.

Seu rosto está em um dos tótens dispostos em uma instalação com fotos de alguns dos estudantes da Universidade mortos pela ditadura.

Lauri é o segundo da esq. para a dir. na exposição MemoriAntonia Foto: Lúcia Rodrigues

Legado

O diretor do documentário, Beto Novaes, é casado com Regina, uma das irmãs de Lauri, e resolveu contar a história do cunhado, que ele conhecia desde menino.

“Era importante registrar o legado de Lauri e da geração de 68 na luta de resistência à ditadura militar. Eu quis resgatar fragmentos e formar o personagem. A imprensa ligava a luta armada ao terrorismo. Mas era uma luta política. O Lauri entrou na política pela cultura”, enfatiza.

Professor aposentado da Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Novaes já realizou outros documentários, mas nenhum com esse teor político.

Coordenador do projeto de extensão universitária da UFRJ Educação Através de Imagens, ele já transpôs para a tela, teses que são defendidas na universidade.

Transforma a linguagem acadêmica em documentários que tornam o assunto acessível ao público.

Nesta sexta, ele participa de debate após a exibição do documentário Lauri, uma produção da Kaburé Filmes, no Memorial da Resistência, no Largo General Osório, 66, na região da Luz, no centro da capital paulista.

 


Comentários

Ana Cleia Saraiva

10/04/2023 - 16h06

Nossos neurônios tremem em saber que tantos irmãos nossos lutadores em defesa da democracia e pela Vida foram cruelmente assassinados ou executados. Presentes em nossa Memória nas Lutas do Povo… Malditos ditadores! Ditadura Nunca Mais!

Ana Cléia Saraiva

10/04/2023 - 16h08

Parabéns ao diretor, pela produção do filme. Uma forma de contar aos que não conhecem a verdade sobre a maldita Ditadura Militar.

Nelson Luiz Carlini

10/04/2023 - 20h22

Fui colega do Lauri em São Carlos no curso vestibular do CAASO na Usp SC. Lá ele assistia aulas de botas e chapelão de vaqueiro! Fomos os dois únicos, em 1964, a passar na Poli USP ! Moramos no CRUSP mas não tivemos contato, orientações políticas divergentes.! Lá se vão 59 anos!

Marylizi thuler

11/04/2023 - 16h46

Fazia parte do movimento estudantil da USP nos anos 70. Sofri com a violencia da ditadura. Temos que manter a memoria desse periodo cruel. E ainda ha quem defensa a intervençao militar!

Lineu Navarro

28/04/2023 - 06h14

Parabéns ao Beto pelo documentário. Agora, levar este trabalho ao Centro da Juventude “Lauriberto José Reyes” – localizado na periferia de São Carlos e nomeado em homenagem à sua memória. A luta dos que lutaram contra a ditadura precisa sempre ser contada e re-contada, a partir da ótica dos oprimidos e para os oprimidos.

Deixe seu comentário

Outras matérias