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FUTURO

Brasil sob Lula vai readquirir protagonismo mundial e deve retomar combate à desigualdade

16 de novembro de 2022 - 13h11

Vertigem de grandeza – chegando no galho mais alto

 

Por Mariana Moura

Quando eu era pequena vivia por cima dos muros e telhados. Sentava na janela e subia nos galhos mais altos dos enormes pés de manga do terreno ao lado da minha casa. Sempre acreditei que gostava das alturas, da sensação de liberdade que esse lugar me proporcionava.

Ao chegar na idade adulta tive a oportunidade de subir nas Prateleiras das Agulhas Negras (uma trilha lindíssima que recomendo sempre) e, ao chegar lá no topo com meu companheiro e um guia, em uma pedra que, na minha lembrança tinha menos de três metros quadrados, me senti completamente desamparada. Não consegui ficar de pé e demorou um tempo para me tirarem de lá. Senti vertigem de altura.

Há algumas semanas percebi que toda vez que tenho algo que considero importante para fazer sinto a mesma coisa. Ansiedade, estômago revirado, coração acelerado, falta de ar e, um sem número de vezes, acabo desistindo por acreditar não estar a altura da tarefa.

Meu terapeuta me dizia que a gente só sente apreensão diante de um desafio quando temos reais capacidade de realizá-lo. Se não tivéssemos, nem nos incomodaria. Temos medo de dar certo. Creio que podemos chamar isso de vertigem de grandeza.

Sentimos isso quando podemos ser mais do que nós já somos. Quando temos chance real de superar a nós mesmos, nossas falhas e limitações. Atingir o ponto mais alto que nossas capacidades nos permitem atingir. O galho mais alto da árvore da nossa vida.

O Brasil passa regularmente por essa sensação coletiva. Toda vez que temos reais chances de sermos grandes, atingirmos nossas capacidades, alterarmos o curso da nossa história cheia de desigualdade, parece que nos embrulha o estômago, agimos com base na ansiedade e, um sem número de vezes, desistimos no meio do caminho.

Nestes meus 42 anos de vida já assisti ao Brasil acreditar que “precisamos fazer o bolo crescer antes de dividir”, que só podemos nos desenvolver com “investimentos externos”, que é possível acabar com a desigualdade com assistencialismo, que se mantém superávit comercial com exportação de commodities, que se crescermos mais vai produzir um “apagão logístico” ou que a solução para os nossos problemas é o “decrescimento”. Termos acreditado nessas falácias é reflexo do nosso medo de dar certo.

Somos um país rico em que existe miséria, não precisamos fazer crescer bolo nenhum, apenas dividir equanimemente. Os “investimentos externos” são uma faca afiada que aparentemente solucionam o problema do balanço de pagamentos mas, no longo prazo, com a retirada de lucros e dividendos, provocam um rombo ainda maior nas contas externas.

Reduzir a fome com programas de assistência social é importante no curtíssimo prazo, mas o que redefine a estrutura de renda no Brasil é o aumento do salário mínimo junto com geração de emprego. A exportação de commodities foi a forma em que historicamente nos inserimos no mercado internacional, mas nos deixa vulneráveis aos soluços das bolsas e de crises externas.

O crescimento econômico deve ser acompanhado de investimentos em infraestrutura para garantir sua sustentabilidade, não podemos reduzir arbitrariamente o crescimento com uma alta taxa básica de juros porque não fizemos os investimentos necessários.

E, por último mas não menos perigoso, o argumento maltusiano do decrescimento é não apenas criminoso para com aqueles que ainda não estão participando dos frutos da riqueza nacional como desconsidera absolutamente nossa capacidade científica de produzir tecnologia capaz de nos levar ao Século 21 sem arrasar com o que nos faz o país mais incrível do mundo: nossa mega sócio-biodiversidade.

Esta geração tem a tarefa de superar a vertigem da grandeza e transformar o Brasil no gigante que temos capacidade de sermos.

 

Mariana Moura é pesquisadora pós-doc do Centro SOU_Ciência ICT/Unifesp (Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo), pesquisadora da Cátedra José Bonifácio, do IRI/USP (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo) e membro da coordenação dos Cientistas Engajados. @marianamouracientista


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