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COLETIVIDADE

Fortalecimento da consciência política sobre importância do SUS é caminho para proteção da saúde de todos sem distinção, afirma ex-ministro Temporão

População se manifesta em apoio ao SUS durante vacinação contra coronavírus. Foto: Gustavo Tempone/UFJF

09 de março de 2022 - 11h37

Há futuro para o SUS?

 

Por José Gomes Temporão

Nos últimos meses uma cena se tornou comum nos serviços públicos de saúde envolvidos com a campanha de vacinação contra a Covid 19: crianças, adultos e idosos sorridentes tiravam fotos no momento da vacinação, ostentando cartazes em defesa do SUS com posterior postagem nas redes sociais.

É a classe média admitindo sua admiração e respeito pelo nosso sistema público universal. A grande mídia também parece ter mudado seu humor.

Depois de décadas de ataque permanente ao SUS, observa-se uma mudança de postura das TVs e jornais com o reconhecimento da importância do SUS no contexto do enfrentamento da pandemia.

Mas será que essa mudança expressa de fato uma transformação qualitativa da percepção da sociedade brasileira da saúde como um direito para todos?

Estaríamos no limiar de uma mudança em que, no contexto da crise econômica, as famílias começam a pensar, por que não passar a usar o SUS para suas necessidades em cuidados de saúde e deixar de gastar recursos importantes no pagamento de planos e seguros?

Diante do sucesso do SUS estariam os empresários pensando em reduzir seus gastos com planos e seguros coletivos para seus empregados? E os sindicatos de trabalhadores, pensam em retirar a exigência de plano de saúde no momento dos acordos coletivos?

Doce ilusão me parece. Claro que o respeito e aplauso da sociedade em relação ao SUS e ao trabalho de seus profissionais é real.

Mas esse fenômeno, de uma repentina adesão ao SUS, deve ser compreendido no contexto de uma mediação de décadas de sucesso do nosso programa nacional de imunizações – PNI – que construiu uma consciência coletiva em saúde sobre o papel das vacinas na proteção contra as doenças imunopreviníveis.

O fato é que todo este novo contexto encontra um SUS fragilizado economicamente a partir da emenda constitucional 95, e politicamente atacado a partir do golpe de 2016, sendo que neste governo podemos falar de um desmonte planejado da maior parte das políticas e estratégias construídas ao longo das últimas décadas.

E para compreendermos melhor a dimensão do desafio que teremos que enfrentar, é necessário observar alguns pilares comunicacionais que têm mantido o SUS subjugado ideologicamente nas mentes e corações brasileiros:

  • A visão arcaica e ideológica da caridade e da filantropia em um contexto da saúde como direito;
  • A saúde compreendida como gasto e não como investimento por amplos setores da sociedade;
  • A visão de que o SUS universal é fundamental apenas para os mais pobres (uma visão forte entre a burocracia das áreas econômica, de planejamento etc.);
  • A disseminação da visão de que o acesso à medicina privada faria parte do processo de ascensão social e que, aquela, seria de melhor qualidade que a medicina pública.

O SUS, mesmo entre muitos de seus apoiadores, é visto como uma filosofia perfeita, mas que na prática não funcionaria, algo separado da realidade, não seria factível, nem viável.

Para fazer avançar o SUS, para todos, sem discriminações e de qualidade, precisaremos muito mais do que simpatia ou admiração.

Para que a saúde universal saia do texto do capítulo saúde da constituição e ganhe concretude no cotidiano da população e, para sua sobrevivência e desenvolvimento, é preciso construir e fortalecer a consciência política de que, um sistema universal, é o melhor caminho para a justiça social e a proteção da saúde de todos sem distinção.

 

José Gomes Temporão é médico-sanitarista e ex-ministro da Saúde

 


Comentários

UBIRATAN DE PAULA SANTOS BIRA

09/03/2022 - 15h37

Boas considerações do Temporão. Creio para construir e fortalecer a consciência política é preciso sermos capazes de darmos um salto de qualidade na operação do SUS, que seja perceptível aos trabalhadores em geral, aos setores médios a sua capacidade do bom atendimento e acabar com as isenções, entre elas a do IR.

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